20.12.10

Odores

há um cheiro bom no ar
uma saudade, um quê de maldade e, talvez, piedade
oh, é a humanidade, que finge não estar à deriva
e toca a vida em frente, distraída.

20.10.10

Doce ilusão

renunciaria a tudo para voltar à infância.
à ingênua esperança de ver uma árvore de doces,
ao abrir mão de uma bala
para enterrá-la no chão.

1.10.10

Teus olhos são os beija-flores de minh'alma.

20.9.10

Dança

dancei sozinho no salão.
as luzes apagadas.
dancei sozinho no salão.
a mão no peito e uma dor no coração.
dancei sozinho no salão,
olhos fechados numa escuridão que eu mesmo criava
e me impedia de ver que era observado
por alguém que queria dançar comigo uma última canção.

25.8.10

Indagação

eu, que nunca estendi a mão para ajudá-los,
posso agora apontar o dedo para puni-los?

13.8.10

Sem respostas

a vida não pede licença nem quando vem
nem quando vai.
não agradece.
nos deixa calados,
espantados e comprimidos pela surpresa
e pela incongruência.
afinal, o silêncio é a única resposta ao que não faz sentido.

15.7.10

Cabeleira

um fio de cabelo
faz sombra tão pequena
desde que não seja tua esposa morena
a achá-lo, loiro,
aconchegado à tua lapela.

20.6.10

In-diferentes

todos me julgam
olham e apontam: que burro!
um absurdo!
só porque sou diferente de todo mundo
que não param um segundo de ser iguais na indiferença
e na ignorância.

19.6.10

Aquilo a que chamam Experiência

trouxe comigo o pó do caminho
impregnado na bota e nas dobras da calça.
atravessei todo o mundo de objeções, adulações,
preconceitos e remorsos.
e dele não me livrarei, porque quero saber por onde não mais andar.

11.6.10

Silencio

conversei comigo mesmo e tive respostas absurdas para problemas comuns.
pensei melhor e vi que as respostas eram comuns; absurdos, os problemas.
depois eu vi que problemas não existiam e, por isso, desnecessária qualquer resposta.
ah! que sensação absurdamente prazerosa essa que é o silêncio.

6.6.10

Tempo

um solo de guitarra
uma mesa virada
uma resposta grosseira
e uma rebeldia sem causa.

onde foi parar a adolescência da minha vida?

3.6.10

Sobre o que realmente é importante

me perdi na última curva
porque não quis ir por onde todo mundo vai.
agora estou no meio de tudo que todo mundo ignora,
e não sei por onde começar.

10.4.10

Adestrados

tudo de que precisamos é o teu vício
o teu sacrifício
a tua vontade demente de ser diferente
que te faz tão igual aos demais
tão iguais
que sob os nossos pés julgam trilhar cada qual seu caminho
massa de manobra que pensa ser independente
mas obedece como um escravo contente
em ter uma coleira de brilhantes

6.4.10

Gira! Gira!

o balé das sementes da jacarandá
que giram!, giram!,
parecem suspensas no ar
assume ares trágicos quando elas pousam no asfalto negro da cidade
que as quer sufocar.

2.4.10

Resignado

deu dois chutes no chão, levantando a poeira
colocou a arma dentro da calça e olhou o corpo atrás de si
o buraco do tiro
certeiro
matara a esperança de um futuro bom.

18.3.10

Vazio

de tudo, o que ficou foi isto:

7.3.10

Despedida

disse que já voltava,
e se foi sem nunca olhar para trás.
vai tarde! - eu ainda gritei, -
agora eu já sonhei tudo com você...

11.2.10

Obnubilado

num esforço de atlas o poeta torce o pensamento
e o único pingo de genialidade que cai resume tudo:
saudade.

29.1.10

Teimosias

conte a ela que dói
ficar sozinho olhando a chuva escorrer pelo vidro embaçado.
mas a morte é insensível,
e não permitirá que voltes.