26.11.06

de costas para o mundo
chorando em um túmulo que é, agora, também o meu
eu apenas ouço as folhas que balançam com a brisa
um pouco mais cedo e ouviria ainda o orvalho a gotejar.
.
enterro as mãos fundo nos bolsos,
mas o que eu queria mesmo era te abraçar.
sentir ao menos mais uma vez o teu perfume
que me lembra noites felizes de luar.
.
(lágrimas nos olhos... o peito a descompassar)
e eu grito que já não há mais como,
nem te apertar de encontro a mim
nem viver sem ti.
.
e eu decido que viver morrendo aos poucos
é pior que viver um último instante durante a morte.
e então fecho os olhos, e lembro com força de nós, felizes...
e não abro nunca mais, com medo de perder a imagem.
morro!
adoras me ver cativo
sedento do teu charme e brilho
a me deliciar nas tuas curvas
a olhar, incrédulo e estupefato, a monumental escultura que és

há momentos, não raros
e de fácil percepção,
que me perco...
sonho de olhos abertos
acariciando-te, beijando em desejos a tua pele
aspirando longamente teu perfume.

e quando desperto dessa ilusão tão real
e vejo teu sorriso,
vejo que sabes o que senti e o que sinto por ti
ah! nenhuma vergonha me assalta!
não há receio em ser vítima da provocação
não há porque temer demonstrar a candura e a pureza da entrega
seria como ter medo de ser feliz,
querer mascarar o que me faz sorrir.

mil pensamentos me sacodem a mente

outro milhar, composto por desejos e anseios,

não de grande dificuldade,

mas de infinita significação,

oprime o peito e seca o grito n´alma.

faz morrer qualquer outra vontade,

eclipsa aquilo que se apresenta sem ti.

e, na verdade, nem me importo!

não perco nada não tendo aquilo que de ti carece!


tais devaneios encontrarão eco n´algum lugar feliz

se, para tamanha felicidade, nascemos

eu, com minha loucura exagerada,

entrega exacerbada,

oferta daquilo que nem sei se tu queres;

e tu, com teu silêncio provocante,

olhar cativante,

que supostamente ignora o paraíso no qual se constitui para mim.

15.11.06

olhem! e vejam que espetáculo de mulher!
o raro presente que me é dado
um tesouro que foi a mim confiado
e que não é como a chuva que molha todos e a qualquer!
.
percebam como ela me tem sem esforço,
preso ao seu encanto de brinquedo novo.
mas muito mais do que um objeto do qual poderia enjoar,
é ela algo como uma deusa, que abençoa a quem a venerar
.
abençoa não! pois que aquilo de bênção eu não posso chamar!
é, antes que isso, um feitiço
que só age naquele que não têm medo de se deixar enfeitiçar.
.
ah! mas quantas palavras falo eu sobre ela
a vocês que nunca entenderão sequer uma centelha
posto que com ela jamais terão a honra de estar!
por ti,
de mim os desejos tomam conta!
imperiosos, fazem
comigo o que querem.
até parece,
com tais lamentações,
que não somos nós os que a eles dão fogo,
e combustível...
pobre vício,
indelével e de fonte presumível,
leva as culpas e expiaria também as penas
não fosse a minha falta de tempo em cumpri-las.
tempo esse que extravio,
ou melhor,
docilmente invisto,
em devaneios absurdos.
certo de que nunca acabarão os sonhos
nem se perderão os momentos em que realizamo-los
tua presença, ao mesmo tempo que tortura, sublima
ao mesmo tempo que destrói, fascina
e de todo tempo em que admiro tua figura
duas coisas marcam lembranças profundas:
teu sorriso de quem sabe que tem o que quer.
e teus olhos, que têm de mim exatamente a medida do tudo.

é por isso que tortura...
pois eu quero esconder,
não quero parecer tão facilmente encantado;
e destrói, pois arranca a máscara,
tira o véu da força.

e é só por isso que sublima,
como curar as feridas por debaixo da armadura sem tira-la?
e fascina,
pois ensina aquele que não se quer encontrado,
que fugir daquilo que todos procuram
é o pior e mais punível pecado.

4.11.06

pula!
se joga e deixa que o vento abra tuas asas
daqui de cima o abismo só parece profundo
pula! não tenha medo de arriscar
de qualquer forma morreremos um dia
e por que não morrer sentindo um friozinho na barriga?
pula! e saiba que pularei junto contigo
e apesar de saber que minhas asas não abrirão,
não quero perder esse instante de felicidade teu
pula! eu disse, seja livre, seja como tu és
eu não me importo com mais nada que não seja isso
eu quero te ver cumprindo o teu destino
pula! que eu sentirei teu perfume sendo espalhado pelo ar
pois eu sei que não é agora que tu vai cair
olhe ao seu redor... estamos sós aqui
pula! que eu pularei também... estarei do teu lado
para tudo que acontecer...
mesmo que seja só em pensamento
pula! e não se sinta culpada por nada... ou por tudo
eu que decidi... eu que não abri mão de ser companheiro
e espera, porque lá do fundo eu gritarei lívido:
eu disse! eu disse que teu destino era ser anjo!
num sábado introspectivo.