23.9.11

Voyeur

a glória de um corpo que desperta
e te espera na cama enredado
nos lençóis manchados
de vergonha do amor
incontido

14.9.11

o céu azul lembrou-me teus olhos.
não porque sejam azuis,
mas porque me enchem de alegria.

Palhaço, sincero e frustrado

tu qué a verdade?
claro!
- pausa e beiço -
que pena! minha mentira ao menos seria engraçada...

6.8.11

Cúmplices

adormeço todo noite embriagado do teu amor.
ah, minha senhora!
devolva-me a sobriedade!
há invejosos de minha felicidade
cochichando pelos cantos
sobre nossa cumplicidade.

5.4.11

Epopeia de uma pata

li outro dia no jornal
que uma moça muito cara de pau
pediu um milionário rapaz em casamento
querendo garantir o seu sustento.

a safadeza foi tamanha
que logo após a festa de arromba
sem nenhum motivo aparente
naquele 'amor' ela se fez descrente.

não hesitou e pediu separação!
se fazendo de vítima
ela ainda queria uma gorda pensão.

muito azar o desta menina,
pois o milionário foi curar as mágoas
nos bilhões de uma rica rapariga.

2.4.11

Desperdício

que tristeza é a baga de jacarandá
que quica no basalto sujo da calçada
e repousa estoicamente, sabendo que jamais germinará.

Percepções

quando percebi que as nuvens não eram de algodão
olhei para a terra e vi que ela não era encantada,
que as ondas eram muito mais que o som relaxante
e que a beleza do raio prenunciava o susto do trovão.

16.1.11

'devagar com o andor que o santo é de barro',
disse um velho coitado
ao ver passar o cortejo
rumo ao futuro.

não que tivesse ainda qualquer esperança,
mas a tristeza das crianças inexperientes
lhe doía.

20.12.10

Odores

há um cheiro bom no ar
uma saudade, um quê de maldade e, talvez, piedade
oh, é a humanidade, que finge não estar à deriva
e toca a vida em frente, distraída.