17.11.07

Aliterasós

tais e quais dois nós
nós dois
num nó só
a sós
não somos dois
somos nós:
um nó só, de dois
nós dois, nós
de dois nós, um nó só.
nosso nó.
só nosso.

20.10.07

logo após o almoço decadente,
solitário e apressado,
pois atrasado e nada quente,
eis que uma preocupação me bate:
casca de feijão no dente?
e ante a falta de algo que me reflita,
reflito eu, sob o sol ardente:
uma foto de um sorriso amarelo!
e um sorriso de satisfação,
pela resposta inteligente,
será o objeto da fotografia que me salvará o dia!

mas qual!
a vergonha de parecer um louco que não contente em apenas sorrir a esmo,
ainda o registra para a posteridade,
provando ser mais que louco,
ser um louco de qualidade,
me faz ser ágil, mais ágil que a câmera.
e o resultado da loucura, como não poderia deixar de ser,
é uma obra de arte.
cujo único (d)efeito é a falta de jeito com meu celular.

mas, apesar de louco, estou contente:
mais vale ser o louco que pinta a monalisa,
do que ser a monalisa com feijão no dente.

1.7.07

Profissão Poeta

o poeta carrega as dores do mundo
e quando isso ele percebe
sublima o sentimento e escreve
é por esse motivo que as pessoas lêem
e pensam:
pobre coitado poeta tristonho!
e é assim que ele carrega as dores do mundo:
todo mundo chora o choro do poeta,
sente a dor do poeta
e se esquece da dor dentro de si.
e o poeta escreve a dor que todo mundo esquece do lado de dentro.

por isso que a dor do poeta é a dor de todo mundo.
e todo mundo se identifica com as linhas de um poema.

12.5.07

com os pés na grama verde e fofa ele olha o céu em tons de azul, branco e laranja
e imagina que em algum lugar tem mais alguém fazendo como ele
talvez sentada numa cadeira fofa, e não de pé
e com um vestido verde, e não sem camiseta
mas voando tão alto quanto ele
como se num vôo para um reencontro

6.3.07

ser-me-á tão sexy ver-te despir-te.
o momento no qual a última peça de roupa passar pelo pé
fazendo a tornozeleira brilhar num tom de prata
encerrando assim qualquer tentativa de me prender
de segurar a minha vontade de saciar o desejo que te mata
pois será a única coisa não-viva a vibrar com o prazer
queimar com o tesão que se desprende dos nossos corpos quentes
será mais do que um adorno sensual...
será testemunha de um amor também carnal
mas, sobretudo, sobrenatural

20.2.07

Tua voz eu quero ouvir

palavras
mesmo que ao vento jogadas
dizem tanto que até me calo
na esperança de ser ouvidos

quero que me alcancem
e sentido, então, façam
que assustem se preciso for
que me silenciem de pavor

que me faltem as palavras
e me sobre silêncio
para te ouvir atento

teu lamúrio, chamamento,
até então jogado ao vento,
será respondido em sentimento

6.2.07

sussurros, mesmo em desarmonia,
compõe a melodia que fascina,
que impõe a todo o espaço
espessa neblina,
que transmuta horas em momentos,
nos quais os olhos se olham,
perdidos, se contemplam
em busca do segredo que faz do beijo
único e veneno à razão,
mas que dá ao coração
a certeza de estar vivo,
e de ser motivo para que outra bata
e também viva.

4.1.07

joga por terra teus medos
e experimenta te entregar para mim,
inteira,
como quem só quer a felicidade sem fim.
.
aproveita e livra tua mente dos questionamentos.
tenta sentir apenas o embalo do meu abraço,
e o calor do meu beijo.
deixa, que os sentimentos turvarão os pensamentos.
.
fecha os olhos e imagina o toque dos meus dedos,
deslizando pela tua pele macia, causando arrepios,
e imagina também a minha expressão de encanto

de pura embriaguez na tua figura,
na tua candura em se fazer mulher
só para me ter aos teus pés.
quiçá, quisera eu,
casar com a primeira
que visse pela rua,
e que fosse como ela,
linda... nua.
quicá, quisera eu
não tê-la perdido
tê-la mantido no calor do meu coração
para que nem na mais fria estação
ela sentisse o frio da solidão.
quicá, quisera eu
que ela me amasse tão forte
e, com sorte,
driblaríamos a morte.
não seriamos atol em oceano de fel
ah! vida cruel, que me separas dela
joga-me no inferno,
e a deixa distante,
no céu.
são coisas do coração,
tudo aquilo que passa diante dos olhos,
e que deixa arrasada a razão.
sentimentos que gritam e que enlouquecem,
que desmancham e remontam as visões,
que confundem, e declaram entregue à paixão
aquele que simplesmente não se permitia enganar.
sua pouca experiência tentou negar,
mas ninguem é imune à emoção.
mas, de tudo, o que mais me agrada é sentir tua respiração
calma,
a estufar o peito, aproximando-te do meu coração

pois tenho assim a certeza de que não é um sonho.

e, com olhos fechados, um sorriso feito,
tímido
a certeza de que, ao abri-los, tu ainda estará ali
respirando e também sorrindo,
me faz voar.

voar e viver.

2.1.07

Excitação

crava tuas unhas na minha pele...
e rasga-a!

só assim tu sentirás o que está em mim,
fervente,
esvaindo-se pelos sulcos que fizeste,
profundos,
em momentos de loucura e insensatez,
segundos,
nos quais se perdem os sentidos,
desnecessários,
para que se encontrem as almas,
inebriadas.

Da falta que me fez

sim...
eu visto preto.
mesmo estando contigo, feliz, encantado, apaixonado.
sim, eu visto preto. e é por luto.
por desgosto mesmo!
fria infelicidade que queima...
é o luto,
por todos os anos que eu não respirei do teu ar.

Declaração

escuta-me!
enquanto eu ainda tenho minha mente.
prometo ser rápido para não adiar nossa felicidade.

mas eu tenho que falar antes que tu te aproximes
e leve embora a minha sanidade!

olha nos meus olhos e diz para mim que acredita no que eu digo,
que estará tudo bem se essa felicidade
que, por ser incrível e surreal,
seja por mim encarada como um sonho,
quiça uma realidade sobrenatural,
da qual não quero acordar,
e na qual quero viver.

1.1.07

dançando na chuva
pisando nas poças vermelhas
misturando água, terra, sangue e indiferença.

aos corpos mutilados, um protesto
por estragarem a paisagem
e por macular, em escarlate, o dinheiro e a vida.

saudamos os pés que brincam serelepes entre os pedaços.
por não se importarem com a dor
e por fazer da vida algo que se esquece para se continuar.

e que maldita seja a água que cai,
e que se mistura às inúteis lágrimas,
na tentativa idiota de limpar as feridas.